domingo, 19 de agosto de 2007

Na Outra Margem do Rio


Em sua carta aos Hebreus, Capítulo 11, versículos 1-2, São Paulo faz uma excelente descrição da fé: "... é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se vêem".
Acrescentando a este conceito uma noção visual, podemos imaginar um rio: numa margem está o que É, o presente; na outra, o que PODE SER. Duas realidades, ligadas por aquele curso d'água, que é a fé.
Somente pela fé - no sentido de confiança - vislumbramos certos sonhos, e somos capazes de suportar bem mais do que normalmente agüentaríamos.
Não fosse a antecipação daquilo que se pretende, essa certeza sobre o que ainda é incerto, um aluno jamais conseguiria estudar com afinco para ser aprovado em um vestibular. Um casal de namorados jamais sobreviveria à primeira crise no relacionamento, não esperassem serem felizes juntos. É a certeza daquilo que esperamos que alimenta a coragem e a tolerância em nós.
Conheci alguns casos em que o rio se alargou muito, engoliu um bom pedaço das margens e afastou muito as realidades, de modo que já não era possível avistar uma a partir da outra. A fé havia sobrepujado a própria expectativa, virando um rio caudaloso, indomável e muito forte. Em outros casos, o curso d'água secou, e seu leito transformou-se numa terra agreste e inóspita, quase impossível de atravessar.
Talvez, o segredo seja não esperar passivamente que própio rio una suas duas bordas. É muito fácil confundir esperança com passividade - e é nessa situação em que nossos sonhos se distanciam de nós. Seja por excesso de otimismo ou por falta dele, a fé pode tomar proporções inesperadas, e é necessário que ela exista na porção certa para interligar as realidades.
O melhor a fazer é adentrar o rio. Suportar o frio, as pedras do fundo, a correnteza. Não esperar até que ele vire um mar ou um deserto, mas trabalhar a fé, enquanto ainda se pode fazê-lo.
Elemento inerente ao ser humano, a fé é naturalmente dinâmica. Ou assim deve ser, para que se possa desfrutar da realização da promessa, e não meramente observá-la e saudá-la de longe, como se fôssemos peregrinos em relação aos nossos próprios sonhos.

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