quarta-feira, 27 de junho de 2007

Cultive seu lado dark

É, esse é um convite que pode parecer estranho aos outros. Ninguém quer desenvolver esse aspecto de sua personalidade. Somos criados para exaltar a felicidade contínua, o bem estar frenético, a alegria duradoura. Por isso lemos livros de auto-ajuda e horóscopos, buscamos a religião e terapeutas, assistimos a comédias românticas, "A Noviça Rebelde" e aos filmes do Capitão Jack Sparrow.
Mas, na verdade, é impossível ser feliz o tempo todo. De fato, é impossível sorrir sem antes chorar, acertar sem antes errar. Infelizmente, não temos um manual de instruções da vida, não podemos ganhar experiência sem antes... Bem, sem antes experimentar.
O lado dark é bem este: é quando você admite chorar, gritar, escutar música barulhenta e ver filmes do Stanley Kubrick. É composto daquele seu retrato horroroso, daquele dia que seu cabelo está absolutamente rebelde. É se vestir mais de preto do que roupas coloridas; é até mesmo deixar de desejar "bom dia" para os outros.
Não digo para ser assim todo o tempo, mas cultive seu lado dark com a mesma intensidade que você cultiva seu lado light. Cometa erros, seja grosseiro, seja amargo agora - mas para acertar, ser educado, ser doce depois.

Afinal de contas, não dizem por aí que o equilíbrio é a chave de tudo?

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Faz De Conta

Todo mundo já ouviu histórias de contos de fadas - pelo menos uma vez. Geralmente, quando crianças. Porém, em outras situações, ouvimos esses mesmos contos quando adultos. E nos pegamos num dilema: acreditar ou não acreditar?
Depende muito de sua carência. Em casos de carência afetiva, você quer mesmo que um princípe encantado venha lhe resgatar de sua tediosa existência; para os carentes de imaginação, nada melhor do que um pouco de mágica na vida. Às vezes, tudo o que precisamos é pensar que aquele sapo vai virar um homem lindo, se lhe dermos tempo e atenção necessária.
Mas aplicar a lógica do faz de conta no mundo real pode ser perigoso para o coração. Este dificilmente é enganado, e simplesmente fechar os olhos e fingir não vai mudar isso. É aquele pequeno espinhozinho que cutuca de vez em quando: "há algo errado aqui, não acha?" - ele nos diz.

Talvez sapos virem princípes no mundo real. Não sei, nunca vivenciei isso. Meus sapos sempre foram sapos. Quando se pareciam com princípes, era eu, forçando terrivelmente a vista, apertando os olhos até enxergar sombras por entre a cortina de cílios.

Por vezes, tenho até medo de a fantasia me abandonar completamente, e eu me encontrar sozinha no escuro. Mas, para quem não quer viver enganada, o faz de conta não serve. Eu não quero fazer de conta que estou feliz. Eu não quero fazer de conta que está tudo bem. Prefiro imensamente enxergar a verdade - por mais que doa. E dói.

sábado, 9 de junho de 2007

A Cabeça Velha

As pessoas envelhecem de muitos jeitos. Alguns, surpreendem-se com uma pele cheia de rugas; outros com cabelos brancos. Uns se descobrem envelhecidos porque cansados da rotina e do trabalho. Mas a pior é a velhice da mente, do espírito.
A cabeça antiquada faz sofrer muito seu dono. Ele não consegue transcender seus próprios limites, não consegue jamais sair de si mesmo e vive preso à ilusão de que será capaz de mudar, a sua semelhança, o mundo - ao invés de, simplesmente, viver nele. Quem convive com essa "peça" também passa por maus bocados. É sempre um choque: de pensamentos, de experiências, de gênios. Carece muita paciência.
O mais importante, ao lidar com essas cabeças velhas, é admitir que eles não vão mudar tão facilmente - isso é, se mudarem. A inflexibilidade acompanha a mente antiquada como acompanha os músculos idosos.

Não há tristeza maior no mundo do que sofrer de reumatismo espiritual.

terça-feira, 5 de junho de 2007

O Gosto Amargo Que Fica

Quem já desistiu de alguma coisa (ou de alguém) na vida sabe o gosto amargo que isso deixa na boca. É penoso, e a maior parte do tempo você passa se convencendo de que é para o seu bem. "Eu mereço mais que isso" ou " está na hora de assumir uma postura, antes que fique tarde demais"...
A gente sofre, mas abre mão. Talvez por cansaço, talvez por maturidade, talvez por ânsia de mudanças. Mas a gente sofre: o gosto amargo fica. E, a menos que você seja muito decidido, olhará para trás, com saudades daquele docinho que antes alegrava o seu dia.
Aquela música especial, aqueles lugares marcantes... Eventualmente, tudo se dilui na memória - o açúcar vai ganhando generosas doses d'água, até que surge... O gosto acre. Será que algum dia nos acostumamos com ele?
Acho que não. Mesmo que aquele mel já não exista, lembramos dele. Quem já provou o paraíso, não se acomodará jamais no purgatório. Porque, de fato, o amargo é isso: é voltar ao limbo, ao indefinido. É fazer o retorno, parar, pensar, repensar. É ver que aquele caminho se fechou - ou bom, ou ruim - por escolha sua. E que é hora de tomar novas direções. Ah, e o gosto amargo que fica? Bem, é o pedágio que pagamos para adentrar a nova estrada...

sábado, 2 de junho de 2007

Dia de Chorar

Vez ou outra nos deparamos com um dia de chorar. Ele pode acontecer depois de um sermão na madrugada, depois de um mal-entendido com seu amor, depois de decepcionar um amigo.
Quando chega esse dia, o céu mais azul parece cinza; você pode até tomar um banho de sol, que o sol não lhe esquenta. Seu corpo dói, sua cabeça dói, sua consciência dói.
Nessas ocasiões, seu melhor amigo é um travesseiro, um cobertor ou -quem sabe - até uma árvore. Você tem que escolher um companheiro mudo. Os companheiros que falam vão ficar preocupados, provavelmente não vão saber o que dizer. Você vai olhar nos olhos deles por detrás das suas lágrimas e vai sentir pena - de si mesmo e deles. Quem quer colocar os amigos nessa situação?
Não. No dia de chorar, além de sozinho, você fica inquieto porque nenhum lugar lhe cabe. Nenhuma atitude parece apropriada também: peço desculpas aos pais que deixei preocupados? Pego o telefone e ligo para o amor? Procuro justificar-me com o amigo?
Como dá para perceber, sair do dia de chorar requer coragem, e coragem genuína.
Coragem... É complicada, pois é preciso sair de si mesmo, pisar no orgulho, engolir as lágrimas. É pensar: e daí se ele descobrir que eu gosto dele mesmo? E daí se eu abrir mão do meu ponto de vista por meus pais? E daí pedir desculpas p'ra aquele amigo?
O principal no dia de chorar é não deixar que este vire uma semana, um mês, um ano... Porque isso até acontece fácil... Bem, tudo o que não requer coragem acontece fácil.