quarta-feira, 30 de maio de 2007

Da Malfadada Tentativa

Todo mundo já ouviu, pelo menos uma vez, alguém que está envelhecendo dizer que mantém jovem o seu espírito. O corpo cede aos anos; a alma contraria o passar do tempo... Será possível?

Sinto muito por aqueles que pensam assim: não, não é possível.

O ser humano não é compartimentado: é um todo; e o todo sofre as alterações em conjunto. Cada ano que passa não vai alterar simplesmente sua pele, seu cabelo, seu peso ou sua fisionomia. Isso, na verdade, é mínimo. Cada ano vivido provoca mudanças na sua visão de mundo, no seu jeito de ser, nos seus desejos e vontades. É como deve ser: aprender com o que aconteceu, crescer, evoluir.

Às vezes, dá uma vontade muito grande de voltar no tempo e ter dezenove anos de novo. Com alguma disposição, você pode tentar realmente reviver essa idade. Mas não durará mais que algumas semanas (bem, dependendo de sua animação, quem sabe dure alguns meses); o certo é que você eventualmente se cansará e voltará os seus olhos para outros horizontes. Horizontes que você só descobriu com 23, 27, 30, 40 anos.

A vida é mesmo assim: um corpo não pode ocupar dois lugares ao mesmo tempo. Citando Cecília Meireles: "ou isso ou aquilo". Quem sabe, nem se trate uma questão de escolha. O tempo, por fim, vence e vai trancando as etapas da vida uma vez que elas são superadas.

Por isso, o melhor conselho que alguém pode receber é: "aproveite bem o seu tempo". Carpe Diem! Porque, do contrário, meu amigo, sua opção pelo "rejuvenecimento" não passará de uma malfadada tentativa...

domingo, 27 de maio de 2007

Rótulos

Outro dia, um amigo me surpreendeu quando disse que eu era uma "menina para namorar". Achei muito esquisito esse tipo de classificação. Afinal, como é possível estabelecer este tipo de parâmetro entre pessoas, considerando a individualidade de cada um?
Primeiramente, essa expressão denota um conteúdo incrível de machismo. Alguns homens ainda têm a visão pré-concebida da mulher ideal para assumir compromisso (ou, "a matriz") e outra ideal para curtir ( "a filial"). Acredito "menina para namorar" deve seguir um certo padrão, que seja conveniente o bastante para que o homem se divirta por aí, confiante de que ela se mantém fiel, quieta, segura, submissa. É, meu amigo caiu um pouco no meu conceito.
Em segundo lugar, o quanto se conhece de uma pessoa para assim rotulá-la? "Essa serve para isso", "aquela serve para outra coisa"? Será que o mais superficial dos conhecimentos já serve para prever meu comportamento numa relação? Por mais tempo que passemos ao lado de alguém, não podemos dizer que a conhecemos assim tão bem. É aí que jaz toda a injustiça nos rótulos: são embasados numa mera noção inicial. Bom, meu amigo caiu um pouco mais no meu conceito...
Por fim, achei interessante colocar essa afirmação em contraste com o pensamento feminino. A maioria das meninas que conheço (eu mesma aí incluída) não pensa que exista tal classificação: "homens para namorar". Todo homem é um namorado em potencial, esperando para ser descoberto.
Quando nos sentimos atraídas por alguém (a digo "atraídas" no mais amplo dos sentidos), acreditamos que ele pode ser capaz de um relacionamento sério, duradouro, verdadeiro. Gostamos de acreditar que podemos contribuir com aquela pessoa, ajudar, cuidar, fazer melhor. Ouso dizer que cada homem com o qual uma mulher se envolve torna-se um tipo de projeto para ela. Por isso, quando realmente interessadas, custamos a desistir daquele sujeito. Porque ele não deixa de ser namorado por qualquer tipo de comportamento ou por qualquer conceito prévio.

Quero ser Rubem Alves

Quando eu crescer, quero ser Rubem Alves. Será que é muito complicado?

Claro, fora todas as dificuldades físico-químicas da transmutação de uma pessoa em outra, no caso do Rubem (olha a intimidade!) há a dificuldade literária. Tudo que eu queria era saber como ele faz para escrever daquele jeito. Gostaria de pensar que ele segue algum método científico para fazê-lo, ou que mantém a fórmula de seu estilo trancada dentro de um pequeno cofre de sua residência. Mas aposto - aposto - que ele simplesmente senta e pensa e escreve, sem nenhum esforço, sem nenhuma conduta pré-concebida, sem medo nenhum.

Sim, porque como escritora, eu mesmo sou muito medrosa. Tenho o desejo megalômano de ser super assertiva, super profunda, super essencial - tudo isso numa frase só. O Rubem, não. O Rubem escreve todo corajoso, todo simples. Não consigo achar nenhuma das crônicas dele boba ou sem sentido, ou feia. Quando lemos Rubem Alves, lemos um pouco de nós mesmos como seres humanos. Se eu tivesse que fazer uma metáfora visual das crônicas dele, seria um rolo de barbante, se desenrolando sozinho no chão. Se fosse uma metáfora sonora, seria aliteração com a letra L : aquele barulhinho que flui, que rola na língua, que cai, que escorrega, que sai macio da boca e entra mais macio ainda no ouvido.

Então, quero ser Rubem Alves porque ele é macio. É um escritor fantástico, que com aquela mineirice toda é um ser humano todo universal. Rubem Alves é para todo mundo - as crônicas dele são balas de côco, e quem não gosta de bala de côco?

Ai, ai. Quero ser Rubem Alves! Já que não existe fórmula, será que é muito difícil?

Blog pra quê?

Muito engraçado, isso de fazer um blog. Nunca algo particular foi tão público - e por escolha do próprio dono! Acho que mais interessante em expor seus pensamentos dessa forma é assumir o risco de que alguém os leia, goste, desgoste, identifique-se com o que foi escrito. Acaba sendo uma responsabilidade muito grande, apesar de não pararmos para pensar profundamente a esse respeito. Afinal, não interessa: o importante é que todos tem alguma coisa para dizer, eu também tenho; eles têm blogs, eu também quero ter.
Pensando mais um pouco sobre a utilidade de se ter um blog, esbarrei nos dizeres da escritora Susan Sontag a respeito da função social do diário (no mais, levemos em conta que o blog seja um diário virtual). Uma das funções sociais do diário, segundo a escritora, é ser lido furtivamente por terceiros, sejam eles pais, amantes, etc. Só no diário somos "cruamente honestos" acerca de tais pessoas, de modo que acaba sendo aceitável que os outros o leiam. Sob essa ótica, a publicidade do blog se justifica; é por isso que assumimos o risco de influenciar alguém, de irritar alguém, de parecer burros, ou espertos ou , tão-somente, nós mesmos. O diário (virtual) existe para que eu me expresse abertamente, ilimitadamente, e para que os outros o leiam (ME LEIAM) , quando eu não estiver olhando...